Entre as discussões do painel, foi unânime a opinião de que a mulher deve continuar lutando pelo seu espaço na política e na sociedade
O papel da mulher advogada na sociedade foi tema do primeiro painel da 3ª Conferência Estadual da Advocacia em Roraima, promovida pela Seccional Roraima da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RR) por meio da Escola Superior de Advocacia (ESA). Entre os temas debatidos foram discutidos o espaço que a mulher ocupa na política e em cargos de liderança, além do espaço já conquistado e das diferenças ainda existentes.
A advogada Renata Fabris, da OAB Rondônia, abriu o painel falando sobre eficiência ou ineficiência das cotas de gênero. Entre os dados apresentados, ela destacou que as mulheres ainda são minoria na política e em cargos de liderança na sociedade em geral e especialmente dentro da advocacia. “Hoje, nós mulheres representamos 52% dos eleitores do país, porém não ocupamos nem 10% das vagas do parlamento”, detalhou.
Renata informou ainda, que comparado a outros estados, Roraima conta com uma boa representatividade de mulheres no poder. “Roraima é o único estado que tem uma governadora. Dos 15 municípios, cinco são liderados por mulheres, porém esses números são mais tímidos quando se trata do poder legislativo estadual, pois das 24 vagas, apenas quatro são ocupadas por mulheres. Já na câmara federal das 8 vagas de Roraima, duas são de mulheres e das três no senado, uma é feminina”, disse.
Apesar dos avanços conquistados nos últimos anos, Renata destacou que a representatividade ainda é pequena e que o sistema de cotas tenta de alguma forma reparar isso. “O sistema de cotas na política foi criado para que as mulheres participassem mais da política, mas não funciona da forma que deveria. Hoje muitas mulheres ainda não querem assumir tais papéis, pois colocam a família acima de tudo. Isso acaba resultando em muitas candidaturas forjadas, em que o partido procura por laranjas apenas para cumprir a cota de participação das mulheres”, detalhou.
Ela frisou que isso só mostra como o sistema de cotas é ineficiente. “Precisamos de cotas nos cargos e não de vagas nas eleições e acredito que isso pode mudar em breve. Somente assim teríamos a tão sonhada igualdade pela qual sempre lutamos. E ao contrário do que muitos pensam, nós precisamos sim dos homens, que eles nos apoiem e nos ajudem a conquistar esse espaço”, frisou.
Quando se trata da OAB Reata lembrou que a participação feminina nos cargos de liderança também é pequena. “O mesmo problema enfrentado na política e na sociedade em geral, também enfrentamos na OAB. A mulher não quer assumir cargos de responsabilidade pois precisam além de trabalhar, de administrar uma casa, uma família. De 27 seccionais, temos apenas uma mulher presidente e na vice-presidência temos 13. Esses números são mais expressivos quando falamos em conselhos e comissões”, explicou.
Também colaborou para as discussões do painel, a defensora pública estadual Jeane Xaud, falando sobre violência institucional de gênero. Ela lembrou antes de tudo, que os direitos das mulheres foram conquistados mediante muita luta. “Temos que lembrar a sociedade que também as conquistas que tivemos foram com sangue e suor. Nossos direitos não existem por conta de lamentações de mulher, foram construídos através de resistência e continuam sendo reafirmados a cada dia, ainda que não nos identifiquemos como mulher feminista”, declarou.
Ela ressaltou que a violência institucional de gênero ocorre quando a mulher ainda ganha menos que o homem ocupando a mesma função. “A violência contra a mulher foi definida como qualquer ato ou conduta baseada no gênero que cause dor, sofrimento e violência física. Mas também é considerada violência de gênero essa diferenciação de salários. Isso ainda existe, já foi bem pior, mas precisamos combater”, disse.
A presidente da Comissão da Mulher Advogada em Roraima, Clarissa Vencato, finalizou convocando as mulheres a participarem mais da política e assumirem cargos na OAB e na sociedade em geral. “Nós precisamos participar, continuar conquistando o nosso espaço. Não somos mais como as mulheres do passado que viviam apenas para as atividades domésticas e gerenciamento do lar. Temos direito de participar das decisões políticas”, concluiu.